segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Ainda a compaixão e o tal "segredo" que nunca o foi!

Compaixão é a verdadeira essência de uma vida espiritual e a prática central daqueles que devotaram suas vidas para alcançar a iluminação. É a raiz das Três Jóias Supremas: Buda, Darma e Sanga.
(...)
O que é exatamente compaixão? Compaixão é uma mente que, com a motivação de apreciar todos os seres vivos, deseja libertá-los do seu sofrimento.

Às vezes, desejamos que alguém se livre do sofrimento por razões egoístas; isso é bastante comum nas relações que se fundamentam principalmente no apego. Se nosso amigo estiver doente ou deprimido, poderemos desejar que se recupere depressa para desfrutarmos novamente da sua companhia; mas esse desejo é basicamente autocentrado, não é verdadeira compaixão. A verdadeira compaixão baseia-se, necessariamente, na motivação de apreciar os outros.

Embora já tenhamos algum grau de compaixão, no momento, ela é bastante parcial e limitada. Quando os nossos familiares e amigos estão a sofrer, facilmente sentímos compaixão por eles, mas é bem mais difícil sentirmos solidariedade por estranhos ou por pessoas que achamos desagradáveis.

Além do mais, sentimos compaixão por aqueles que estão a sofrer dor manifesta, mas não por aqueles que desfrutam de boas condições e menos ainda pelos indivíduos que cometem acções nocivas.

Se realmente quisermos realizar nosso potencial e alcaçar a plena iluminação, temos que aumentar o alcance da nossa compaixão até que ela consiga abranger todos os seres vivos sem exceção, como faria uma mãe amorosa que sente compaixão por todos os seus filhos, independente de estarem a agir bem ou mal.
(...)


in "Transforme a sua vida" por Venerável Geshe Kelsang Gyatso.


O que sai fora da norma aqui é a afirmação que devemos sentir compaixão não apenas por quem está a sofrer, mas mesmo por quem não sofre e tem uma vida boa, ou até mesmo por quem é mau ou pratica más acções. Este sentimento não é um dado adquirido, é um processo. Um processo de aproximação aos outros, não apenas a alguns a mas a todos os outros, o texto faz uma analogia interessante com a maternidade e a nossa capacidade enquanto mães de perdoar e nos compadecermos dos nossos filhos mesmo que eles se portem mal. O acto da compaixão não é apenas benéfico para o receptor da mesma mas é, acima de tudo, vantajoso para o autor.

É através da compaixão que realizamos a nossa felicidade, a nossa paz interior - isto não é segredo para ninguém, quando resolvemos um conflito ou saímos da nossa rotina para ajudar alguém ainda que simplesmente através de um sorriso, experimentamos uma sensação agradável.

Ontem numa conhecida livraria vi passar por mim alguém que levava consigo não um exemplar mas três de um livro muito em voga no momento: "O Segredo" devo confessar que depois de um folhear relativamente pouco atento do livro em questão fiquei com a sensação que aquilo se foca muito na realização material como meio para obtenção de felicidade, e que parte de uma premissa errónea de que as pessoas felizes e realizadas são todas capazes de enriquecer facilmente, ou que a riqueza material seja um objectivo de quem é verdadeiramente feliz. O que é, no mínimo discutível.

A base da tal "lei da atração" e do dito livro - e de uma colectânea (eu contei 4) de livros sobre o livro - é um reaproveitamento de algo comum à maior parte das religiões, um princípio que dita que a quem faz o bem e é bem intecionado, no fundo quem pense coisas positivas e actue segundo esse optimismo mais cedo ou mais tarde acontecem coisas boas (para Judeus, Cristãos e Muçulmanos as coisas boas serão ir para o céu, ou merecer a protecção e ajuda divina; para Budistas será o "karma").

Ora que treta! Afinal o tal segredo nada mais é do que uma doutrina de re-pescagem de algo que a humanidade sabe há milénios, tudo coisas que ao invés de serem segredos foram bradadas aos céus por inúmeros profetas, sábios e filósofos durante todo este tempo! Mas pronto, chamar-lhes "segredo" sempre valeu aos autores da dita re-pescagem uns trocos adicionais.

Mas é exactamente nisto dos trocos que me parece estar a principal falácia do tal "segredo". No fundo o livro pega nos sentimentos hedonistas de satisfação pessoal que são comuns a todo o ser humano e no conceito do "poder da mente e do pensamento positivo" e leva-nos a "dar uma volta". E esta "volta" afasta-nos daquele princípio universal comum também à maior parte das religiões e filosofias antigas que é o da riqueza interior ser muito mais válida e conducente à felidade do que a riqueza material.

O grande senão de livros como o tal "Segredo" é colocar o enfoque na obtenção de riqueza exterior. Quando seria muito melhor que procurássemos a riqueza interior, porque, ao contrário da outra, ela nunca nos decepciona. E é esta, a interior, a única riqueza capaz de nos trazer a paz e a felicidade que almejamos. A riqueza material é, mais vezes do que o que parece, até mesmo um obstáculo ao nosso progresso interior do que um coadjuvante da nossa felicidade.

Eu sei, isto anda muito metafísico por estes lados, perdoem-me.

Quantos aos Xisbitos eles vão lindamente, o Samuel recomeçou a escolinha após o interregno da semana passada em casa da avó. A Jú está a passar uns dias com a madrinha onde pode brincar com a Nina, uma cadelinha "a pilhas" que só quer brincadeira, e receber todos os mimos da madrinha!

E quanto ao tal livro não se ofenda com o que eu disse quem o comprou ou pensa comprar, é apenas a minha humilde opinião e reconhecidamente formada sem sequer ter lido devidamente o objecto da minha crítica. Perdoem-me novamente!

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segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Covardia, Crueldade, Prudência e Compaixão!

in Público.pt

Tribunal da Relação deu razão a despedimento de cozinheiro com HIV



O Tribunal da Relação de Lisboa considerou justificado e legítimo o despedimento de um cozinheiro infectado com HIV que trabalhava na cozinha de um hotel, confirmando decisão semelhante já tomada pelo Tribunal de Trabalho de Lisboa.




Por causa desta notícia pus-me hoje a pensar um pouco nesta questão. Não me tenho por grade entendedora na matéria e a minha experiência pessoal deste género de situações ainda que existente é consideravelmente limitada, no entanto tenho dificuldade em não me pronunciar sobre este assunto.

Hoje em dia a linha entre o que pode ser considerado medo irracional, covardia geral e massificada ou um acto ou acções prudentes e preservantes do bem estar geral é extremamente ténue, e na minha humilde opinião, é espezinhada constantemente.

Num mundo cheio de fantasmas horrendos como o terrorismo, o ódio racial e religioso, o HIV-SIDA, as armas nucleares e químicas, o aquecimento global e as impendentes catástrofes naturais... e tantas outras coisas! Neste mundo assim cravejado de medos somos tantas vezes levados a cometer injustiças e aberrações que têm por exclusiva base o medo irracional que sentimos ao sermos confrontados com estas tristes probabilidades da existência terrena!

Não posso deixar de sentir-me um pouco como alguns dos comentadores da notícia que afirmavam: ainda que ínfima a probabilidade de infecção não sujeitariam a ela os seus filhos.

Mas posso dizer que sei o quão irracional este medo é. Essa probabilidade existe sem dúvida, mas é infinitamente menor do que ser-se atropelado numa passadeira, e não vou impedir os meus filhos de atravessarem a rua numa passadeira, desde que tenham verificado no melhor das suas possibilidades que não há risco previsível em fazê-lo. Mas não haver risco previsível, não significa é claro que ele não exista.

Contudo, no lado oposto a todos estes medos está um valor que espero vir a conseguir incutir nos meus fihos, um valor que deve imperar sobre a natural covardia do ser humano - a COMPAIXÃO!

E o que senti ao ler a notícia deste senhor que perdeu o emprego foi que infelizmente ele perdeu muito mais do que uma profissão ou um ordenado. Ele perdeu a sua humanidade com esta decisão. E, embutidos deste medo irracional, nós - a sociedade - perdemos a capacidade de nos compadecermos dele na sua condição de ser humano e de o respeitar enquanto tal.

Perdeu este senhor o direito à nossa compaixão, que deveria sobrepor-se ao medo irracional de sofrer o mesmo que infelizmente ele sofre, que nos faz tomar uma probabilidade infíma como um risco previsível!

Recordo-me que quando a Ju nasceu havia, horas antes, na mesma sala sido feita uma cesariana a uma mulher portadora de HIV. Que eu tenha sabido disso já foi uma violação da sua privacidade (desnecessária, totalmente desnecessária).

Mas depois, para cúmulo, pude também observar como a pobre mulher (por sinal também de etnia africana) era tratada! Cortava-me por dentro! Fui "informada" pelas auxiliares para ter cuidado no contacto com a referida senhora dado ser a mesma uma "infectada", caridosas almas que me alertaram para esperar pelo próximo elevador para não ficar tão perto dela!

Partíamos ambas numa romaria diária para a sala de neonatologia onde estavam os nossos bebés. Tomei sempre o mesmo elevador e, apesar das advertências, chorei com ela, abracei-a, abrançando de seguida a minha filha. E porque corri eu este risco? Porque naqueles dias para mim ela era apenas uma mãe, cujo filho se encontrava, como a minha, numa incubadora. Ela vivia a incerteza de ter ou não contagiado o bebé, eu vivia a incerteza de saber se poderiam haver sequelas do incidente com o liquido nos pulmões da Ju. Eramos ambas mães, a sua dor era infinitamente superior à minha, mas eu senti-a.

Sentia-a de cada vez que alguém se afastava dela ou do seu bebé, por receio, por covardia, irracional e cruelmente. Voltaria a abraçá-la a enxugar as suas lagrimas e a beijar o seu bebé? Claro que sim! Mesmo que isso significasse um risco para mim e para a minha filha? Claro que sim, sem pestanejar!

Por isso espero que, em face de tudo o que de mau há no mundo, saiba a Humanidade manter sempre acima de todos os receios, tanto os mais infundados como até os menos, as virtudes da compaixão e do amor, que nos deverão tornar corajosos para enfrentar os perigos que nos rodeiam.

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quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!



Florbela Espanca

Já disse algures e volto a afimar que a felicidade não é a ausência de tristeza, mas sim a presença de esperança. Por isso sim, sou feliz ainda que triste por vezes, por saber que nem tudo o que de bom tenho sempre dura, que às vezes o pó da estrada em que viajamos nos tolda a vista e até do amor que nos movia nos esquecemos.

Que tinha eu nesses tempos de riso solto que agora me falta, nada! Nada me falta, tenho tudo! Mas tanto do que tenho deixei em parte incerta!

E choro o que perdi, mas ainda tenho... o que de mim escondi ou escoderam!

E escondo as lágrimas que não correm, que me lavam alma empoeirada, e que me lembram que por baixo da rotina dos dias e dos meus medos, me bate ainda no peito o meu motor, aquele que me trouxe aonde estou! Que anda empoeirado e tosco, mas sempre comigo o meu Amor.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Manta de blogs!

Às vezes perguntam-me porque tenho tanto trabalho a fazer templates para blogs, sem que (na maior parte dos casos) receba nada em troca!

Eis a resposta: poder olhar para um ecran assim e saber que todas estas pessoas foram de alguma maneira tocadas pelos meu "bonecos", que recorrendo a eles puderam mostrar o seu ego virtual com umas roupinhas mais janotas! Isso para mim, é já pagamento suficiente!

Aqui fica uma pequena colcha de blogs que usam templates meus, há mais... ainda há mais é verdade, mas não cabiam todos, foram sendo abertos sem ordem especial!

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Uma borboleta na janela do 6º andar!

Insolitos da natureza numa montanha de betão!

Mais um dia na escolinha!

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Como seria de esperar...

... hoje foi mais complicado ficar na "minha escola" como o Samuel já lhe chama. Chorou e chorou e nem com chucha se calava... mas lá ficou e o choro há-de passar.... Afinal aquilo sempre tem coisas giras e um parque enorme com escorregas e casinhas e brinquedos muito fixes!

Parece-me que o Samuel anda com sentimentos mistos, por um lado até gosta da escolinha, todas as novidades giras, até o almoço ontem correu bem: "o que comeste ao almoço?" perguntei-lhe ontem à noite "esparguete, num prato cor-de-laranja, o prato azul é do João"!

Hoje de manhã "quero ir lavar os dentes!" depois na casa de banho, "com a escova do elefante", "mas a escova do elefante não é de cá de casa", respondi-lhe, "não, é da minha escola!" respondeu com convicção!

Por outro lado custa-lhe saber que o pai e a mãe não vão lá estar, nem a irmã, nem a avó a quem está acostumado, mas é como dizem: "quem não sente não é filho de boa gente!" E o Samuel sente, é claro que sente, que algo está a mudar na sua vida. É natural que esteja amedrontado, mas irá ultrapassar esse medo, que afinal todos nós (até mesmo adultos) sentímos quando algo muda na nossa vida, mesmo até sabendo que mudamos para melhor!

E vamos adiante, um dia de cada vez.
Terça-feira, 6 Novembro 2007

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Update ao primeiro dia na escolinha!

Reunião até às 12h30, saio a correr ainda antes do fim da dita, tiro o carro do parque e percorro os 22 kms até ao infantário a uma média de 160 kms/h.

A meio do caminho ligam-me. Não atendo vou depressa demais para pegar no telemóvel...Acabo de estacionar em frente ao infantário o telemóvel toca novamente, era o Bruno, tinham ligado do infantário... depois do almoço o Samuel adormeceu e estava a fazer a sesta com os outros meninos, se eu não podia passar por volta das três a apanhá-lo para o deixar dormir descansado....

Tarde demais, já lá estava! Voltei para trás, portanto sem Samuel. às 16h00 vão lá buscá-lo a Téta e o Pedro, vamos ver como se porta, e mais importante a ainda como será amanhã?

Segunda-feira, 5 Novembro 2007

Quero ir pintar

Conhecem aquelas histórias de birras e choros, lágrimas a escorrer por faces pequeninas e grandes, e maquilhagem esborratada e coiso e tal...?


Então ia eu preparada para tudo, para o momento da despedida quando deixaria hoje o Samuel na escolinha... Para tudo... menos para um "Adeus mãe!" deslavado, um bejinho a correr e depois, para a educadora, "Quero ir pintar!" E toca a virar-me costas!


Assim é que eu gosto amor, de te ver empenhado em aproveitar a escolinha ao máximo, logo no primeiro dia!!! "Então afinal aqui não se pinta? Não se brinca? Que treta é esta de estar aqui a olhar para a mãe!"


Hoje à hora do almoço vou lá buscá-lo, não convém deixá-lo logo de rompante o dia todo, e também porque estou em pulgas para saber como ele se portou!


O meu rapazinho grande!




(Segunda-feira, 5 Novembro 2007)