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O que é exatamente compaixão? Compaixão é uma mente que, com a motivação de apreciar todos os seres vivos, deseja libertá-los do seu sofrimento.
Às vezes, desejamos que alguém se livre do sofrimento por razões egoístas; isso é bastante comum nas relações que se fundamentam principalmente no apego. Se nosso amigo estiver doente ou deprimido, poderemos desejar que se recupere depressa para desfrutarmos novamente da sua companhia; mas esse desejo é basicamente autocentrado, não é verdadeira compaixão. A verdadeira compaixão baseia-se, necessariamente, na motivação de apreciar os outros.
Embora já tenhamos algum grau de compaixão, no momento, ela é bastante parcial e limitada. Quando os nossos familiares e amigos estão a sofrer, facilmente sentímos compaixão por eles, mas é bem mais difícil sentirmos solidariedade por estranhos ou por pessoas que achamos desagradáveis.
Além do mais, sentimos compaixão por aqueles que estão a sofrer dor manifesta, mas não por aqueles que desfrutam de boas condições e menos ainda pelos indivíduos que cometem acções nocivas.
Se realmente quisermos realizar nosso potencial e alcaçar a plena iluminação, temos que aumentar o alcance da nossa compaixão até que ela consiga abranger todos os seres vivos sem exceção, como faria uma mãe amorosa que sente compaixão por todos os seus filhos, independente de estarem a agir bem ou mal.
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in "Transforme a sua vida" por Venerável Geshe Kelsang Gyatso.
O que sai fora da norma aqui é a afirmação que devemos sentir compaixão não apenas por quem está a sofrer, mas mesmo por quem não sofre e tem uma vida boa, ou até mesmo por quem é mau ou pratica más acções. Este sentimento não é um dado adquirido, é um processo. Um processo de aproximação aos outros, não apenas a alguns a mas a todos os outros, o texto faz uma analogia interessante com a maternidade e a nossa capacidade enquanto mães de perdoar e nos compadecermos dos nossos filhos mesmo que eles se portem mal. O acto da compaixão não é apenas benéfico para o receptor da mesma mas é, acima de tudo, vantajoso para o autor.
É através da compaixão que realizamos a nossa felicidade, a nossa paz interior - isto não é segredo para ninguém, quando resolvemos um conflito ou saímos da nossa rotina para ajudar alguém ainda que simplesmente através de um sorriso, experimentamos uma sensação agradável.
Ontem numa conhecida livraria vi passar por mim alguém que levava consigo não um exemplar mas três de um livro muito em voga no momento: "O Segredo" devo confessar que depois de um folhear relativamente pouco atento do livro em questão fiquei com a sensação que aquilo se foca muito na realização material como meio para obtenção de felicidade, e que parte de uma premissa errónea de que as pessoas felizes e realizadas são todas capazes de enriquecer facilmente, ou que a riqueza material seja um objectivo de quem é verdadeiramente feliz. O que é, no mínimo discutível.
A base da tal "lei da atração" e do dito livro - e de uma colectânea (eu contei 4) de livros sobre o livro - é um reaproveitamento de algo comum à maior parte das religiões, um princípio que dita que a quem faz o bem e é bem intecionado, no fundo quem pense coisas positivas e actue segundo esse optimismo mais cedo ou mais tarde acontecem coisas boas (para Judeus, Cristãos e Muçulmanos as coisas boas serão ir para o céu, ou merecer a protecção e ajuda divina; para Budistas será o "karma").
Ora que treta! Afinal o tal segredo nada mais é do que uma doutrina de re-pescagem de algo que a humanidade sabe há milénios, tudo coisas que ao invés de serem segredos foram bradadas aos céus por inúmeros profetas, sábios e filósofos durante todo este tempo! Mas pronto, chamar-lhes "segredo" sempre valeu aos autores da dita re-pescagem uns trocos adicionais.
Mas é exactamente nisto dos trocos que me parece estar a principal falácia do tal "segredo". No fundo o livro pega nos sentimentos hedonistas de satisfação pessoal que são comuns a todo o ser humano e no conceito do "poder da mente e do pensamento positivo" e leva-nos a "dar uma volta". E esta "volta" afasta-nos daquele princípio universal comum também à maior parte das religiões e filosofias antigas que é o da riqueza interior ser muito mais válida e conducente à felidade do que a riqueza material.
O grande senão de livros como o tal "Segredo" é colocar o enfoque na obtenção de riqueza exterior. Quando seria muito melhor que procurássemos a riqueza interior, porque, ao contrário da outra, ela nunca nos decepciona. E é esta, a interior, a única riqueza capaz de nos trazer a paz e a felicidade que almejamos. A riqueza material é, mais vezes do que o que parece, até mesmo um obstáculo ao nosso progresso interior do que um coadjuvante da nossa felicidade.
Eu sei, isto anda muito metafísico por estes lados, perdoem-me.
Quantos aos Xisbitos eles vão lindamente, o Samuel recomeçou a escolinha após o interregno da semana passada em casa da avó. A Jú está a passar uns dias com a madrinha onde pode brincar com a Nina, uma cadelinha "a pilhas" que só quer brincadeira, e receber todos os mimos da madrinha!
E quanto ao tal livro não se ofenda com o que eu disse quem o comprou ou pensa comprar, é apenas a minha humilde opinião e reconhecidamente formada sem sequer ter lido devidamente o objecto da minha crítica. Perdoem-me novamente!
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1 comentário:
Na sequencia deste poste e da menção do livro do mestre Geshe Kelsang Gyatso, é possível comprar o dito livro em Portugal?
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