quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Lágrimas Ocultas

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!



Florbela Espanca

Já disse algures e volto a afimar que a felicidade não é a ausência de tristeza, mas sim a presença de esperança. Por isso sim, sou feliz ainda que triste por vezes, por saber que nem tudo o que de bom tenho sempre dura, que às vezes o pó da estrada em que viajamos nos tolda a vista e até do amor que nos movia nos esquecemos.

Que tinha eu nesses tempos de riso solto que agora me falta, nada! Nada me falta, tenho tudo! Mas tanto do que tenho deixei em parte incerta!

E choro o que perdi, mas ainda tenho... o que de mim escondi ou escoderam!

E escondo as lágrimas que não correm, que me lavam alma empoeirada, e que me lembram que por baixo da rotina dos dias e dos meus medos, me bate ainda no peito o meu motor, aquele que me trouxe aonde estou! Que anda empoeirado e tosco, mas sempre comigo o meu Amor.

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